Mas afinal, o que é a Criança Interior?
Muitos me perguntam sobre o meu trabalho com a criança interior, às vezes com certa timidez e até um receio em se mostrar interessado em tal assunto.
“Coisa de psicólogo”, “coisa de quem abraça árvore”, “isso é muito zen”, “não é pra mim, não preciso disso” e tantos outros pré-conceitos que surgem e que eu entendo e acolho com muito respeito.
O tema é comentado no Brasil ainda timidamente, artigos circulam pela internet vez ou outra, mas percebo que não trazem a profundidade que este trabalho promove. Assim, a partir de um chamado de alma, eu decidi mergulhar neste tema, busquei livros, autores e vivências e pude então compreender alguns aspectos importantes que abordo em vários programas da Spontaneum.
A Cura da Criança Interior foi, inclusive, um dos pilares que sustentaram o livro Movimento do Amor: Cura da Criança Interior e o Desbloqueio do Fluxo da Vida.
Vamos lá! A seguir, compartilho alguns insights e compreensões para iluminar o caminho daqueles que sentem o chamado de reencontrar sua criança.
“A criança que fui chora na estrada
Deixei-a ali quando vim ser quem sou
Mas hoje, vendo que o que sou é nada
Quero ir buscar quem fui, onde ficou.”(Fernando Pessoa)
A Criança Ferida
Toda criança, sem exceção, sentiu-se ferida em algum momento da infância. Sim, todas. Entendo que pais e mães sofrem quando ouvem isso, mas costumo dizer que faz parte da evolução e da missão de vida de cada um. É realmente inevitável.
Seja a criança provinda de famílias funcionais ou não, com traumas mais profundos ou com infâncias bastante saudáveis, em algum momento ela registrou e interpretou determinado evento (ou eventos) de forma negativa, causando-lhe dor e gerando uma ferida central.
O amor não foi sentido de forma plena, o suporte esperado não veio, a proteção necessária não lhe foi dada, a inclusão não aconteceu… Isso gera então sentimentos de insignificância, de incapacidade, de não merecimento, de desamor. E diversos bloqueios se desenrolam a partir daí.
Crescemos e desenvolvemos estratégias para suportar a dor sentida e para nos proteger de novas reincidências:
– A criança que registrou severas críticas ou uma disciplina rígida na infância, e passa a incorporar um severo crítico interno. Assim ela mesma se critica – incessantemente – acreditando que dessa forma pode se proteger das críticas externas.
– A criança que registrou que o amor não vinha gratuitamente, e passa a acreditar que precisa “comprar” o amor dos outros, modelando seus comportamentos e atitudes na busca incessante por agradar os outros e assim ser amada.
– A criança que registrou uma dubiedade na figura de autoridade, ora percebendo-a de forma amorosa, ora percebendo-a de forma excessivamente dura e insensível, e passa a desenvolver um senso de desconfiança exagerado com tudo e com todos.
– A criança que registrou um abuso de sua inocência (seja através de abusos verbais e/ou físicos) e passa a criar uma máscara superprotetora de “eu sou forte”, testando os outros através de sua força. Ou ainda desenvolve outra proteção com a máscara de “eu não sinto”, bloqueando o acesso aos sentimentos e desenvolvendo prioritariamente as capacidades mentais.
Entre outras feridas/registros e formas de interpretação que geram, por consequência, estratégias diferentes de bloqueio e proteção para sobreviver no mundo adulto. – processos que o trabalho com Eneagrama explica muito bem e nos traz ainda mais recursos no caminho de cura.
Os traumas podem ser severos algumas vezes, mas tenho percebido em meu trabalho que, independentemente da profundidade do trauma e do registro que ele deixou, o desenrolar dos bloqueios acontece inevitavelmente. Bloqueios que nos causam dor, que nos trazem problemas de relacionamento, nos travam a fluidez da vida e surgem nos momentos mais inoportunos ou na hora das decisões mais difíceis.
Vasculhar essa infância causa medo, às vezes pavor! “Não quero remexer nisso, não quero sentir isso de novo”, ou ainda tentamos racionalizar “Eu não tenho nada a ser trabalhado”. Mas enquanto não nos dispusermos a esse retorno, manteremos nossa criança ferida lá, sozinha num quarto escuro, abandonada, chorando e sentindo a dor que estamos, arduamente, tentando evitar.
“Você só cura aquilo que pode sentir.”
(Domingos Cunha)
Se nós sobrevivemos na infância com bem menos recursos do que temos hoje, se conseguimos crescer e encontrar estratégias – nem sem saudáveis – de sobrevivência, é claro que seremos capazes hoje de revisitar esse porão onde deixamos nossa criança.
Reencontrá-la, acolher a sua dor, oferecendo-lhe o amor que ela necessita é nossa função prioritária e mais ninguém pode suprir isso.
“Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão.”
(Carl G. Jung)
A Criança Divina
A boa notícia é que, quando nos dispomos a trabalhar com o resgate dessas experiências através de técnicas e exercícios vivenciais, percebemos que, no mesmo local onde acessamos a dor, acessamos também a luz e a força intrínseca que nos habita.
Luz que traz espontaneidade, leveza, liberdade, autenticidade, serenidade, paz, equanimidade, fé, coragem, inocência. Luz que irradia em nossa vida, trazendo a resposta a tantos porquês e a compreensão de um sentido maior de existir, de nossa missão de vida. Luz que cura!
Esses são atributos da Essência, dessa qualidade divina que existe em nós e que bloqueamos juntamente com a dor da ferida.
Já dizia o mestre:
“Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”
Quando reencontramos a nossa criança, ainda ferida, quando nos aproximamos e passamos a estabelecer uma relação sincera com ela, percebemos tamanho potencial de cura e ressignificação das experiências traumáticas. Nossa criança já carrega esse potencial em si, mas precisa deste reencontro verdadeiro e regado de amor incondicional para acessá-lo e torná-lo disponível a nós.
Quando enfim o acessamos, entendemos o real significado do perdão e do amor incondicional. Perdão que liberta e amor que apenas existe, sob nenhuma condição. É indescritível!
Resgatar a criança interior é, portanto, um processo profundo que envolve coragem e disposição para reencontrar a Criança Ferida, curá-la e amá-la incondicionalmente, para que possamos então acessar e liberar o potencial de luz de nossa Criança Divina. Potencial que ilumina e traz um novo sentido à nossa vida!
Por ter vivenciado este processo de uma forma tão rica e profunda, e por utilizar diversas técnicas e exercícios em meu trabalho como psicoterapeuta, percebendo o potencial de ressignificação e cura dos meus clientes, eu acredito fortemente neste caminho.
Como Gestalt-terapeuta, baseio-me muito no aqui-agora. Assim, o importante não é remexer o baú, cutucar a ferida e fazê-la sangrar, remoendo o passado e encontrando culpados. O importante e o foco do meu trabalho é ajudar as pessoas a revisitarem o porão e procurarem por suas crianças. Reencontrá-la, pedir-lhe perdão, deixar a dor doer sabendo que agora, junto dela, temos um potencial imensurável de cura.
Para mim, reencontrar a minha criança foi, além de um processo de cura interior e transcendência, um chamado da minha alma. Algo em meu coração dizia-me que ali estava uma importante missão: levar essa corrente do bem por onde quer que eu fosse.
Por isso, cá estou. E convido você a vir comigo!
Essa é, sem dúvida, uma viagem que vale a pena. Um mergulho de Luz, Cura e Transcendência!
“A felicidade é simplesmente uma questão de luz interior”.
(Henri Lacordaire)
Amor e Luz,
Tatiane Guedes
PS.: Temos uma versão deste texto em formato e-book, com exercícios exclusivos para você fazer em casa. Clique aqui e baixe gratuitamente.
Outros links úteis:
Meditação Guiada
Acesse a meditação guiada e vivencie um lindo encontro com a sua criança interior:
Livro: Movimento do Amor
Vivemos um grande paradoxo e a principal aflição humana, causadora de desequilíbrios e doenças, não pode ser resolvida pela revolução tecnológica nem pelos avanços da Medicina. O bloqueio do fluxo da vida e o distanciamento da tão sonhada felicidade e da liberdade só podem ser retomados por um Movimento de Amor, que amplia a consciência e relembra o indivíduo de sua conexão com a essência. A partir de sua experiência como psicóloga e facilitadora de processos de Cura da Criança Interior e Constelação Sistêmica, a autora propõe o resgate da criança que nos habita e o consequente desbloqueio do fluxo da vida.
Atendimento Individual
A Jornada Terapêutica é um programa individual de 8 sessões, cujo propósito é te apoiar no processo de reconhecer, integrar e dissolver in-forma-ações que aguardam por resolução e repouso no Ser. O programa é sustentado por três pilares metodológicos: o trabalho da Criança Interior, o campo das Constelações Sistêmicas e a sabedoria do Eneagrama; e facilitado pela terapeuta certificada na abordagem Spontaneum, Aline Potratz.