Os jogos inconscientes nos relacionamentos à luz do Eneagrama
Como tenho dito: o maior presente que podemos dar a alguém que amamos é, antes de mais nada, a cor-agem de nos responsabilizarmos por nossas feridas.
Tatiane Guedes
É muito importante estarmos atentos aos jogos inconscientes que permeiam os relacionamentos. Vou listar alguns que fui mapeando à luz do Eneagrama e que, independem de nosso Eneatipo central:
▪ Jogo da acusação: esperamos pelo erro do parceiro para apontar-lhe a falha. Ou, quando somos acusamos, reagimos contra-acusando. Esse jogo baseia-se em uma ilusão: “se eu estou certo, você deve estar errado”.
▪ Jogo da carência: esperamos por demonstrações de afeto que respondam às nossas idealizações de amor romântico, sem que possamos ver o amor do parceiro por nós. É como se disséssemos: “se você não demonstra seu amor da forma como eu quero e espero, então você não me ama”. E este é um jogo que só alimenta o ciclo negativo da carência.
▪ Jogo da competição: nos comparamos com o parceiro e entramos em um jogo de competição a respeito de nossos feitos. “Se eu fizer melhor, se for o ‘melhor’ em nossa relação, então serei digno de amor”, é a crença inconsciente que permeia esse jogo.
▪ Jogo da dramatização: potencializamos as fricções naturais que a relação nos causa, exagerando nosso sofrimento como forma de sermos vistos e amados pelo parceiro. “Se você não pode compreender minha dor, então você não me ama”, é um dos mecanismos inconscientes aqui. Outra forma de entrar nessa energia inconsciente é focar apenas naquilo que “falta”, dramatizando os desafios naturais do relacionamento afetivo.
▪ Jogo do isolamento: por medo de nos entregar ao mundo das emoções, anestesiamos nossa capacidade de sentir e nos isolamos dentro do relacionamento. Sem perceber, vamos criando um caminho paralelo e individual dentro da relação, excluindo o parceiro. Podemos entrar nesse jogo para testar o amor do companheiro também.
▪ Jogo da insegurança: o medo e o pessimismo ronda a relação, criando e recriando a insegurança em vários sentidos. Podemos ora nos tornar hiper vigilantes e desconfiados do parceiro, ora depositar nele a nossa própria segurança, criando o solo perfeito para a co-dependência.
▪ Jogo da superficialidade: não nos aprofundamos em nossos reais sentimentos, fugindo para prazeres momentâneos dentro do relacionamento. No fundo, esse jogo está a serviço de nos proteger de um profundo medo de sentir dor, e assim, ora desistimos da relação nas primeiras dificuldades, ora tendemos a enfeitar os problemas diante da falta de coragem de mergulhar em nós mesmos.
▪ Jogo do poder: poder, agressividade, controle, posse e dificuldade em mostrar-se vulnerável são aspectos que atuam nesse jogo. Muitas vezes criamos situações para testar a verdade do parceiro, de forma a fortalecer nosso senso de poder e controle sobre a relação.
▪ Jogo do desengajamento: aqui experimentamos a presença ausente, ou seja, podemos estar fisicamente com o outro, mas não nos engajamos na relação. O desengajamento também pode vir através de outra postura, a de viver a vida do outro, absolutamente esquecidos e anestesiados de nós mesmos.
Todos nós já caímos em alguns ou vários desses jogos inconscientes. Só através da auto-observação e de um verdadeiro trabalho de autoconhecimento poderemos reconhecer esses jogos e, assim, fazer novas escolhas. Como tenho dito:
O maior presente que podemos dar a alguém que amamos é, antes de mais nada, a cor-agem de nos responsabilizarmos por nossas feridas.
Tatiane Guedes
Tag:eneagrama, relacionamentos