Faça esse exercício quantas vezes for preciso
“Faça o que for necessário para recordar-se, quantas vezes for preciso, de quem você é em essência, até que você se acostume a viver como tal, em vez de viver nos pensamentos, sentimentos e nas falsas crenças.”
Rupert Spira
Inspirada pelos ensinamentos de Rupert Spira, professor espiritual que compartilha ensinamentos sob a luz do Advaita Vedanta, essencialmente o Caminho Direto de Atmananda Krishna Menon, eu te convido a um exercício.
Você não precisa estar em nenhuma posição específica para fazê-lo. Não há nenhuma condição ou pré-requisito. Esta prática, aliás, pode ser feita em qualquer momento do seu dia e em qualquer circunstância. Você verá que, de tão simples, ela parece boba. A obviedade da descoberta que ela nos traz pode levar a mente a logo descartá-la, mas eu te peço: confie e inclua essa prática contemplativa em sua vida a partir de agora.
Vamos lá!
Etapa 1: Comece com uma contemplação simples, notando algum objeto próximo. Olhe para este objeto, perceba a sua forma, a sua cor e os detalhes que o compõe. Pergunte-se: Eu estou consciente deste objeto?
Depois, escolha um outro objeto, contemple-o e pergunte-se novamente: Eu estou consciente deste objeto?
Provavelmente a resposta será sim para ambas as perguntas, certo?
Etapa 2: Agora, sutilize o objeto observado e leve a atenção para a sola dos seus pés. Você pode fazer isso até mesmo de olhos fechados. Permaneça alguns segundos percebendo essa região e pergunte-se: Eu estou consciente da sola dos meus pés?
E com mais uma investigação sutil, leve a atenção para algum sentimento ou sensação que possa estar presente agora. Talvez o reflexo de alguma situação recente ecoando em seu corpo. Contemple por alguns instantes e pergunte-se: Eu estou consciente desse sentimento ou sensação?
Provavelmente as respostas também serão: “Sim, eu estou consciente.”
Até aqui é bem simples e óbvio: há percepção acontecendo o tempo todo, o que muda apenas é o direcionamento da atenção, que ora está em objetos, ora está em sensações, pensamentos e emoções.
Etapa 3: Agora contemple essa pergunta por alguns segundos: Eu estou consciente?
Com esta pergunta, note que você percebe o que está percebendo o mundo, ou seja, você está consciente de estar consciente. Portanto, não é necessário objetos para perceber que há percepção acontecendo o tempo todo.
Etapa 4: Agora é chegado o momento da investigação mais essencial: nas perguntas sobre os objetos, sobre a sola dos pés ou sobre os sentimentos, a sua atenção foi direcionada para coisas – tangíveis ou não. Mas na simples pergunta Eu estou consciente? não havia um objeto. Logo, para onde foi a sua atenção? Foi necessário colocar a atenção em algo aparentemente externo para perceber a percepção acontecendo?
Não seja tão breve nessa resposta e silencie para contemplar a pergunta por alguns instantes.
Para onde foi a sua atenção quando a pergunta “Eu estou consciente?” revela a clareza da resposta “Sim, eu estou consciente”?
A atenção apenas repousou em si mesma, na observação sempre presente.
Essa observação, percepção, awareness, consciência, presença e tantos outros nomes que tentam traduzi-la é o que você é fundamentalmente. Você é a pura percepção sempre presente.
Seja no estado de vigília, seja no estado de sonho ou de sono profundo. Você, Consciência, está sempre presente. Como você pode dizer, após uma noite de sono revitalizante, que dormiu muito bem? Porque há Consciência testemunhando isso.
Essa Consciência Impessoal é o substrato de todas as formas vivas, assim como o ouro é o substrato de todas as joias feitas dele. As formas podem ser singulares e únicas, mas aquilo que as vivifica é um só. E isso permeia toda a vida; isso está sempre presente e é anterior à mente que objetifica as coisas e dá significado a elas; é o que fundamentalmente Somos. E isso que Somos não é alguém, não tem forma, gênero, idade, preferências, nunca nasceu e não morrerá.
Isso é o eterno agora.
O onipresente aqui.
Isso é Você.
Essa des-coberta simples e óbvia é o fim da busca por Deus e o começo da jornada em Deus. É o fim de toda ideia de autoaprimoramento como condição para o despertar, pois isso que Somos não precisa ser melhorado, apenas reconhecido.
Objetos, pensamentos, situações, emoções e circunstâncias vão e vêm, mas Eu não vou e venho. Eu estou sempre aqui. Permanentemente aqui e agora.
Se posso perceber tudo isso que se desdobra neste corpo-mente, Quem Sou Eu?
Quando não houver mais respostas para essa pergunta, e a experiência direta e óbvia for percebida, a resposta se fez.
Você É isso.
A mente pode se debater e dizer “Não é tão simples assim!”, mas eu te digo, é simples e óbvio assim. Reconhecer essa natureza impessoal que somos é o despertar, é o cume da montanha que não está distante no horizonte, mas tão próxima como o ar que você respira. Esse reconhecimento é o que todos buscam, pois ele é completo em si mesmo.
Saber o que essencialmente Somos é o descanso da busca e o deleite de viver a vida consciente de Si. Essa autoconsciência é a cura do mundo, pois se eu sei o que fundamentalmente Sou, logo sei o que tudo É. E se tudo Sou, a tudo amo, honro e cuido.
[…]
Tatiane Guedes ༄ Sathya Ma