As terapias são necessárias até não serem mais
— “Tati, então agora você vê que as terapias não são necessárias? Como assim?” — foi a pergunta que recebi recentemente.
O que tenho percebido ao longo dos últimos dois anos, mas (muito) mais claramente nos últimos meses, é que podemos partir de uma nova premissa ao trilhar pelos caminhos terapêuticos.
Concordo absolutamente que quando a pessoa está experimentando a identificação total com sofrimento, ou inconscientemente presa à uma dinâmica vítima-vilão, é difícil ela notar (e realizar) um apontamento direto como “Você não é este sofrimento, ou você não é o que pensa que é”. Logo, o mais indicado nestes casos é experimentar algum processo terapêutico que a ajude a sentir o corpo de dor, a reconhecer padrões de condicionamento, e dar passagem às lágrimas que precisam ser choradas.
No entanto, também neste caso, é possível atuar a partir da premissa: “Você não é este sofrimento, nem este condicionamento. O que você é, é pura paz”. Veja, se temos esse apontamento como base, o terapeuta pode conduzir seu trabalho apoiando a pessoa a:
▪ Reconhecer: trazer os conteúdos para a consciência – ou seja, para o nível de percepção – reconhecendo padrões sem cair na ilusão de controle, querendo entender e decifrar tudo, ou buscando causas de tudo;
▪ Integrar: sentir tudo o que emerge no nível corpo-mente, dar um lugar para todos esses registros vivificados, cessar a guerra interna, chorar, soltar, ‘descongelar-se’; e
▪ Dissolver: aqui não há mais um ‘fazer’, há apenas um ‘perceber’ como um reconhecimento daquilo que sempre esteve aí, testemunhando toda a ‘sua’ experiência humana. A ideia de pessoa, de buscador, de alguém que precisa se aperfeiçoar vai se dissolvendo, pois percebe-se que não é a pessoa que desperta, mas o senso de pessoa que se dissolve.
Veja, ‘autoconhecimento’ como muitos o vendem é, na verdade, conhecer aquilo que não somos. Não somos a criança ferida, não somos a personalidade, não somos os emaranhamentos sistêmicos.
E sim, perceber o que não somos também pode ser essencial para a realização do que Somos – desde que as premissas mudem, do contrário, a pessoa se cola na identidade de buscador e segue na busca interminável de sua ‘melhor versão’ e da paz que está em algum lugar, no qual ela chegará quando tornar-se perfeita; sendo a perfeição a exclusão de todas as emoções classificadas como ‘negativas’.
Vejo hoje as terapias como um campo de escuta e acolhimento, sem perderem-se na ilusão de que estão a serviço de administrar-corrigir-aperfeiçoar o ‘eu’; como ponte rumo ao abismo do qual as ideias de ‘pessoa’ inevitavelmente se lançarão em algum momento.
Terapias que incentivam direta ou indiretamente a busca da ‘fórmula do despertar’; que sustentam a crença de que você tem uma ‘melhor versão’, e logo, precisa se aperfeiçoar-corrigir-aprimorar, estão na completa ilusão e, consequentemente, farão um trabalho que se limitará à administração do eu-psicológico. Este trabalho pode ter seu valor? Claro. Mas aqui na Spontaneum temos experimentado ir além deste contorno. Seguimos com um trabalho terapêutico, com pilares metodológicos que sustentam a nossa abordagem, mas principalmente com essa clara premissa que vem trans-des-formando o nosso olhar.
Aquilo que Somos já é a pura Perfeição.
Te agradeço por me convidar a refletir um pouco mais sobre tudo isso.
PS.: Outra forma de te responder, bem mais breve, seria: as terapias podem ser necessárias, até não serem mais.
[…]
Com amor,
Tati ∞ Sathya Ma
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A [Des] Formação Spontaneum, como o nome sutilmente já revela, é um convite para irmos além das formas. Além das formas-pensamento, e das formas-emoções. Além das in-forma-ações, e da ideia de sermos apenas um corpo-forma separado e limitado. Um programa com mais de 120h de carga horária, contemplando módulos online e um retiro de imersão de 7 dias.
Um convite para o reconhecimento do que realmente Somos: a Consciência não-dual, sem forma, sem nome e sem atributos, sempre presente e que a tudo ilumina.
“Autorrealização é um processo de dissolução da ideia de um eu limitado e separado, e, ao mesmo tempo, a iluminação do conhecimento que revela a Verdade essencial: Você é o Ser. O Ser é tudo o que há.”
— Tatiane Guedes
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