Autoconhecimento: o que significa conhecer a si mesmo?
Há anos atrás, quando eu comecei a trabalhar com autoconhecimento, eu acreditava que conhecer a si mesmo era sinônimo de conhecer a personalidade, desvendar traumas, ressignificar memórias, entender a minha história de vida, reconhecer meus dons e talentos e por aí vai.
No entanto, como comentei neste outro texto, olhar para o autoconhecimento dessa forma, é reduzi-lo a uma ordem relativa; é relativizar aquilo que somos como sendo meramente um corpo-mente dotado de histórias e identidades – um ‘eu’ que carrega gostos, aversões, tendências, padrões de comportamentos, e mecanismos de defesa. Podemos passar uma vida inteira identificados com este ‘eu’, buscando autoconhecimento como uma estratégia de melhoria e aperfeiçoamento, o que poderá trazer certo conforto, mas não irá romper o ciclo de sofrimento – que é o propósito mais fundamental de todos que empreendem essa jornada de conhecer-Se.
O que é autoconhecimento, então?
É muito comum, depois de buscarmos autoconhecimento nessa ordem relativa, chegarmos a um ponto de exaustão da busca, uma sensação de estarmos girando em um looping infinito. É justamente nessa hora que somos arrebatados pelo desejo da Verdade e do reconhecimento de quem realmente Somos, além de tudo aquilo que acreditamos ser.
Lembro-me de um episódio durante uma meditação auto investigativa em que, diante de toda e qualquer emoção, sensação ou pensamento que surgisse, o exercício era perguntar-se: “Quem em mim sente ou pensa isso?”. Coloquei-me a praticar essa tal investigação e em determinado momento encontrei o ‘eu psicológico’ da vaidade. Notei claramente o pensamento que estava me rondando por todo o dia como um reflexo dessa construção mental que chamei de vaidade. Quando percebi isso, sorri. Era como se eu visse a vaidade murchar e se dissolver. Achei graça.
No entanto, algo diferente me aconteceu neste dia. Surgiu uma outra pergunta que não estava prevista no exercício: “Se eu posso observar a vaidade que estava aqui retroalimentando pensamentos de buscar reconhecimento e atenção, o que é isso que observa a vaidade?”.
Testemunhei um silêncio profundo e deste dia em diante, passei por algumas crises com essa tal jornada de autoconhecimento. Claro, pois se eu posso observar tudo aquilo que passei a vida ‘terapeutizando’ e conhecendo, logo, não posso ser essas in-forma-ações. O que é isso que as testemunha?
Foi nessa época que o olhar não-dual começou a chegar por aqui, e fui compreendendo que esse era o reconhecimento mais essencial: a percepção do perceber.
Ah! Autoconhecimento é isso, então?
Reconhecer isso que não é uma coisa e não é alguém, mas é impessoal, imortal, sem bordas, sem formas, atemporal […] isso que nunca nasceu e nem morrerá; isso que está sempre presente, sempre agora, testemunhando tudo o que emerge no corpo-mente, iluminando-o e vivificando-o; isso que tentamos nominar, mas é inominável! Isso é o puro perceber, o puro saber. Isso é Você fundamentalmente.
À medida que essa percepção foi se firmando, fui notando essas duas ordens de realidade no universo de autoconhecimento. E as perguntas continuavam:
- Como expressar essa verdade simples “você já é o que busca”, honrando a busca tão necessária como etapa de preparação para que este reconhecimento aconteça e se frutifique?
- Como firmar esse solo terapêutico em novas premissas, evitando assim tanta ilusão do “caminho”?
- Como transitar neste entre “você precisa olhar para essas dores” e “o que você realmente é é intocável e nunca sofre”?
Foram dois anos me debatendo entre essas percepções – “As terapias são importantes” e “A terapeutização do eu é uma ilusão” – que por um tempo pareciam excludentes, mas aos poucos, encontraram repouso e clareza aqui.
Conhecer a si mesmo pode sim passar por um estágio importante que inclui caminhos terapêuticos que iluminam e são espaço para padrões, traumas e registros que aguardam por resolução. Mas, quando há um desejo ardente pela verdade do que realmente Somos, é natural que esse processo de autoinvestigação se intensifique de forma que vamos nos dando conta de que autoconhecimento, fundamentalmente, é reconhecer Isso que já Somos. O inominável, ainda que teimemos em [tentar] explicá-lo através dos nomes.
Com amor,
Tatiane Guedes ༄ Sathya Ma
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A [Des] Formação Spontaneum, como o nome sutilmente já revela, é um convite para irmos além das formas. Além das formas-pensamento, e das formas-emoções. Além das in-forma-ações, e da ideia de sermos apenas um corpo-forma separado e limitado. Um programa com mais de 120h de carga horária, contemplando módulos online e um retiro de imersão de 7 dias.
Assim, esse é um convite para o reconhecimento do que realmente Somos: a Consciência não-dual, sem forma, sem nome e sem atributos, sempre presente e que a tudo ilumina.
“Autorrealização é um processo de dissolução da ideia de um eu limitado e separado, e, ao mesmo tempo, a iluminação do conhecimento que revela a Verdade essencial: Você é o Ser. O Ser é tudo o que há.”
— Tatiane Guedes