A incorporação do despertar | por Amoda Maa
Muitas vezes, a iluminação acontece na mente como um reconhecimento da verdade absoluta de que um “eu” separado não existe. Embora essa percepção seja, sem dúvida, uma experiência profundamente transformadora, viver essa verdade geralmente é um desafio maior.
O próprio despertar é simples. Claro, do ponto de vista do ego, não é tão simples. Mas, uma vez que a mente se reconhece como este vazio radiante, o despertar é absolutamente natural e sem esforço.
Mas o despertar é apenas o começo: a incorporação desse despertar é a verdadeira jornada. A aventura começa, não na atmosfera rarefeita da transcendência, mas em meio ao caos da vida.
E viver a verdade do despertar talvez nunca tenha sido mais imperativo do que no mundo em rápida mudança de hoje. A maioria de nós vive uma vida complexa e multifacetada, tentando alcançar nossos sonhos, viver o nosso potencial mais elevado e fazer uma contribuição para o mundo. Ao mesmo tempo, estamos cada vez mais conscientes de que mais da metade da população do planeta vive na pobreza e em circunstâncias lastimáveis. De alguma forma, tudo isso precisa ser incluído em nosso despertar.
Se o despertar serve a um propósito real, ele precisa encontrar novas formas de expressão por meio das interações cotidianas. A iluminação não é mais um segredo reservado para místicos, nem um luxo concedido por ocidentais privilegiados que buscam se tornar “mais espirituais”: é uma causa humanitária.
Para que a iluminação tenha alguma utilidade, ela precisa descer do topo da montanha e sujar as mãos na vida comum. Ela precisa ser um abraço entre as ondas do fenômeno manifesto e o oceano de quietude interior que nos leva a uma intimidade profunda com a força criativa da vida. Essa profunda intimidade não significa que você se perca na história do mundo, mas significa que você está disposto a encontrar o mundo de todo o coração sem uma história.
O ser humano desperto está totalmente ancorado na luz da sua natureza, mas apaixonadamente comprometido com a suculenta e agridoce existência terrena.
Sim, a verdade é “Eu não sou meu corpo”: mas minha experiência me mostra que meu corpo está aqui e que a consciência se move por ele sempre que caminho, corro ou pulo. Sim, a verdade é “não há eu”: mas como posso responder quando você chama meu nome? Sim, a verdade é “Eu não existo e nem você”: mas não é verdade que você se importa se eu o vejo e ouço com o coração aberto e não com julgamento? E não é isso que chamamos de relacionamento?
Enraizados na quietude de nosso Ser, o que há de tão não-espiritual na abertura para o movimento da vida? O despertar autêntico não é estático, é um novo momento a momento de consciência daquilo que está se desdobrando em nossa experiência direta. E o que está se revelando para muitos de nós na cultura contemporânea é uma complexidade crescente, interconectividade e criatividade em uma taxa exponencial. Hoje temos a oportunidade de ser muito mais do que as gerações anteriores sonharam: para a maioria de nós, existem mais recursos, mais tecnologias, mais informações e mais sabedoria à nossa disposição. O que há de tão não-espiritual em nos abrirmos para abraçar esse movimento evolucionário de nosso vir-a-Ser?
O despertar autêntico não se trata de “prática espiritual”. Não é algo que fazemos por 20 minutos duas vezes por dia e depois marcamos nossa lista de coisas a fazer: é 24 horas por dia, 365 dias por ano sendo implacavelmente honestos. Ou você enfrenta a vida conscientemente – isto é, desperto em sua verdadeira natureza – ou se perde no sonho. Não há meio-termo: você não pode estar semiconsciente, você não pode enfrentar a vida conscientemente apenas quando ela é boa ou quando as coisas acontecem do seu jeito, e depois se perder na narrativa quando tudo aparentemente dá errado ou dói. Mas você pode se tornar consciente do que ainda está inconsciente em você. Essa honestidade e vigilância é o fertilizante para um despertar mais profundo.
Se o despertar é completo – se for um despertar radical – ele se torna vivo em cada célula do seu ser: ser que canta e dança com a descoberta de sua essência luminosa. À medida que esta luz é incorporada da mente para o coração e, para a densidade da forma física, há uma purificação de tudo que ainda não está vivendo a verdade deste despertar. É aqui que a coisa complica. É aqui que o antigo movimento do ego quer reivindicar a propriedade da luz, quer manter uma imagem do despertar como uma experiência transcendente ou positiva ou bem-aventurada ou sem fim.
Purificação significa que tudo o que está inconsciente em você será levado ao fogo da Verdade. É aqui que a confusão, a dúvida e o medo entram: “Certamente, se eu for iluminado, não deveria ter esses pensamentos não iluminados ou esses sentimentos dolorosos?”. É neste ponto que existe o perigo de uma reidentificação com a narrativa. E é exatamente aqui que o convite para a maior aventura estende a mão para você. Bem aqui, neste momento – e em cada momento que se desdobra – você é convidado a descansar mais profundamente no Um que se expressa como tudo: você é convidado a se abrir voluntariamente para o divino mistério e confusão daquilo que chamamos de experiência humana.
Se você decidir ser inequívoco ao aceitar este convite a sua vida não será mais sua, mas será entregue a serviço disto. Se você for radicalmente sincero em sua entrega ao despertar, a luz do Ser iluminará a sua expressão e tudo o que estiver no caminho desta verdade será desmantelado. Em algumas pessoas, isso acontece como um rio sinuoso que chega suave mas persistentemente ao seu destino. Em outros, isso acontece como uma onda que destrói qualquer coisa frágil em seu caminho. De qualquer forma, se o trabalho de demolição for completo, um silêncio incrível emanará de seu núcleo e reverberará por seu ambiente, sua comunidade, sua cultura e seu mundo. Este silêncio é o seu verdadeiro poder porque é inseparável do núcleo silencioso da criação. É o mesmo que a luz de Deus.
A incorporação desta luz é o início de uma vida autêntica e tem o poder de dar origem a um novo mundo.
~ Amoda Maa em “Radical Awakening”
Tradução e adaptação por Tatiane Guedes
Texto original em inglês: clique aqui
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“Este espaço de encontro, de profundo satsang – encontro com a Verdade – é um convite para Sermos, para re-conhecermos o que Somos fundamentalmente. Anterior à todas as ideias de sermos alguém, anterior aos rótulos, títulos e definições, há algo que não é algo. É Você. Eu. Tudo. Infinito.”
(Tatiane Guedes)