A noite escura da alma
Hoje falo de algo vívido e latente.
Vida que está acontecendo aqui e agora, neste corpo-mente.
Não trago algo elaborado ou terapeutizado.
Não.
Essas palavras surgem do silêncio que vem acontecendo e sendo em ‘mim’.
‘Mim’? Quem? Onde está este ‘eu’ que tanto buscava entender a si mesmo, e libertar a si mesmo?
Poderia responder esta pergunta apontando para este corpo, que por condicionamentos de linguagem eu chamo de ‘meu’, e no qual sinto a Vida de forma mais visceral:
— Estou aqui [neste corpo], sou isso [o corpo].
Mas, note: se por um momento toda a memória de ser quem penso que sou fosse apagada, se nenhuma história mais restasse, nenhuma referência, interpretação, significado, registro […] nada! Surge assim outra pergunta: a Tatiane estaria neste corpo?
Não.
O corpo seguiria pulsando Vida, mas o que Sou se descolaria do senso de ‘ser Tatiane’ – já que nem mesmo este nome seria lembrado.
Então, note: a Tatiane é uma ideia, um conjunto de pensamentos e significados, de registros e memórias, de comportamentos aprendidos e também de dons inatos, e de toda uma gama de in-form’ações que foram se cristalizando.
— Uau! Reconhecer que não sou isso, revela O que Sou: Vida pulsando Vida. Impessoal. Sem Forma. Atemporal. Neutro.
Quanta leveza em testemunhar esse reconhecimento!
Eis que a busca por quem somos dissolve a própria busca.
Este perceber estava aqui o tempo todo. Tão simples, tão óbvio.
Bastava notar. Apenas olhar [e não entender].
E eis que este notar des-formador, que não necessita de formas e conceitos para acontecer – e que, aliás, muitas vezes precisará de um esvaziamento de todo conhecimento adquirido – ilumina tudo!
Tudo […]
e assim, vemos.
Vemos o Amor em tudo o que há.
Vemos a Inteligência que atua em todas as formas de vida.
Vemos que tudo é uma frequência vibratória.
Vemos que nada do que pensávamos ser é real.
Vemos que nossas histórias, mesmo quando carregadas de dor e sofrimento, podem se evaporar em um segundo sob a luz deste notar.
Vemos que viver é dançar, é fluir como as águas.
Vemos que tudo estava aqui, bem debaixo de nossos olhos que tanto procuravam ver acolá.
Vemos a vida aconcetendo naturalmente, e vemos os padrões de nossos velhos programas mentais resistindo àquilo que é: controlando, questionando, reclamando, desejando, projetando, querendo entender e não se satisfazendo com o simples e óbvio:
Ser Vida.
Mas, poucos falam dela: da Noite Escura [da Alma].
Este ver em luz radiante que tudo revela parece inevitavelmente também cintilar toda ilusão. E à medida em que as ilusões, uma a uma, vão se dissolvendo, vamos testemunhando um limbo transitório: Para quê todo este fazer? Como continuar depois de ver a Verdade? Como expressar tudo isso? Com que palavras, se a linguagem é justamente o que mais limita tal reconhecimento?
O corpo se contrai, o coração aperta, a mente expõe o seu barulho interminável.
É incômodo, desconfortável. Muito.
Uma sensação de que nada mais importa – sim, o senso de importância pessoal se vai, você é nada, ninguém.
No livro Noite Escura, Wilfried Stinissen fala sobre esse desapego de um falso ‘eu’ que, na verdade, nunca existiu:
“Propriamente o que é que estamos defendendo, por que defendemos e contra quem estamos defendendo? […] Certamente algo que é frágil, algo que constantemente precisa ser protegido, para que ninguém lhe cause dano. O que você defende é o seu falso Eu, é a mentira, é um fantasma. […] Você não perde nada ao perder uma ilusão. Contra quem ou que coisa está você se defendendo? […] Nossa defesa é contra a realidade, a liberdade e a paz. Por que essa crise é tão pesada? Por que é tão difícil desistir da autodefesa? Quanto mais estamos presos a ilusão, tanto mais difícil é desistir dela. O processo de libertação, a passagem da ilusão para a realidade, é a noite escura. Experimentar essa noite é como uma luta mortal: o que sempre considerei como o meu Eu agora morreu. Mas o que morre aqui é um fantasma e um fantasma não pode passar por uma morte real, visto que nunca viveu. […] O que você está defendendo é um reflexo de espelho do que as outras pessoas pensam sobre você. E você acredita ser esse espelho.”
O que mais posso dizer sobre a Noite Escura [da Alma]?
Que ela acontece.
[…]
e que é só isso que existe: Vida acontecendo sempre aqui, sempre agora.
❝Estudar a si mesmo é esquecer de si mesmo.
Esquecer de si mesmo é se abrir para a totalidade dos fenômenos.❞
Shoboguenzo
Amor,
[Ninguém]
Tatiane Guedes
Sathya Ma ∞
Conheça o programa de [Des] Formação Spontaneum
A [Des] Formação Spontaneum, como o nome sutilmente já revela, é um convite para irmos além das formas. Além das formas-pensamento, e das formas-emoções. Além das in-forma-ações, e da ideia de sermos apenas um corpo-forma separado e limitado. Um programa com mais de 120h de carga horária, contemplando módulos online e um retiro de imersão de 7 dias.
Um convite para o reconhecimento do que realmente Somos: a Consciência não-dual, sem forma, sem nome e sem atributos, sempre presente e que a tudo ilumina.
“Autorrealização é um processo de dissolução da ideia de um eu limitado e separado, e, ao mesmo tempo, a iluminação do conhecimento que revela a Verdade essencial: Você é o Ser. O Ser é tudo o que há.”
— Tatiane Guedes
Tag:noite escura